Dia 21
Hora 16:28
Uma celebração autêntica.
O dia atinge o seu período
mínimo e a noite o seu período máximo.
Sinal do ponto máximo das
nossas profundezas.
Agora iremos começar a
voltar-nos mais para a luz, para o sol, dirigindo-lhe um olhar mais pessoal,
como se quiséssemos dizer-lhe que na verdade continuamos a venerá-lo.
E assim experimentamos mais
uma viragem.
É hora de largar as últimas
folhas, o velho, o que não é necessário, o que bloqueia a passagem para uma
nova folha, uma nova ideia.
Despir-nos das emoções como
a árvore se despe das suas vaidades é atravessar a natureza a grande velocidade
e desfrutar da graciosidade que nos é ofertada.
Assim nos recebe o inverno.
Ele almeja pureza, tranquilidade e potencial.
O outono está a retirar-se,
e com ele as dúvidas, os medos e o desânimo das coisas não estarem a acontecer
da forma como foi arquitectada.
Enfim, deixem-se de tretas.
Temos tudo à nossa frente para sermos super felizes.
As emoções significam
literalmente energia em movimento.
No entanto as pessoas
agarram-se a elas. Conservam-nas e preservam-nas.
Que coisa aborrecida. É como
imaginar uma árvore cheia de folhas amarelas para sempre.
Por isto, e por todas ou
nenhuma razão, vamos receber o inverno com um sorriso.
Vamos respirar fundo e
penetrar no nosso vazio, para nos permitirmos criar.
O ar frio, o céu azul e a
montanha coberta de neve clamam a nossa forma mais pura. É aqui que encontramos
o nosso verdadeiro potencial.
Um ótimo inverno!
"Antes o voo da ave, que passa
e não deixa rasto,
Que a passagem do animal,
que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece, e
assim deve ser.
O animal, onde já não está e
por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que
não serve para nada.
A recordação é uma traição à
Natureza.
Porque a Natureza de ontem
não é Natureza.
O que foi não é nada, e
lembrar é não ver.
Passa, ave, passa, e
ensina-me a passar!"
Alberto Caeiro