2017-10-24

Não querer é poder





 

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A renúncia é a libertação. Não querer é poder.
(…)
Transeuntes eternos por nós mesmos, não há paisagem senão o que somos. Nada possuímos, porque nem a nós possuímos. Nada temos porque nada somos. Que mãos estenderei para que universo? O universo não é meu: sou eu.”
Fernando Pessoa – “Livro do Desassossego”
 
Desde o famoso provérbio – Querer é poder, aos milhares de livros, artigos, vídeos,  eventos, temos sido encaminhados para querer.
Querer está implícito na história, como a separação entre o homem e a natureza.
Mas quando queremos, não somos.
 
Só posso mesmo fazer uma vénia ao nosso querido Pessoa.
Quem nada quer, tudo tem. Pois nós temos o que somos, não o que queremos.
Querer significa já por si não ter.
Ser significa ter.
 
Não querer não significa resignação.
Não querer é ser, é acção. Há experiência, criação e consciência.
Pode-se argumentar que para agir é preciso querer.
Eu contra-argumento, é preciso mesmo?
 
Francis Bacon, o pai do método científico escreveu – Wonder is the seed of knowledge.
 
Wonder, not want.
 
O que procuramos afinal?
Porque queremos tantas coisas?
Meio mundo quer uma coisa, e que se saiba, não a tem.
Que grande chatice.
Todos queremos paz no mundo.
Pois, querer não gera acção.
Ser sim. “…O universo não é meu: sou eu.”
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
I think 99 times and find nothing. I stop thinking, swim in silence, and the truth comes to me.
(Albert Einstein)
 
What we achieve inwardly will change outer reality.
(Otto Rank)
 
To the mind that is still, the whole universe surrenders.
(Lao Tzu)

 

2017-10-11

O que esperam de nós

 










Não é incomum a mensagem de que para sermos bons devemos corresponder ao que esperam de nós.
No trabalho, há objectivos. Os que recebem os nossos serviços exigem que o nosso desempenho corresponda aos procedimentos.
Na família, devemos assemelhar-nos aos outros, estabelecendo as nossas atitudes e intervenções.
Os amigos contam sempre connosco, e nós com eles, no entanto, mesmo em grandes amizades, há idealizações quanto ao comportamento do outro.

Mas afinal, quem dita o nosso papel?
Ah pois! As ciências sociais e humanas não se cansam de definir esta questão.
Contudo, arrisco-me a dizer que há, sempre houve e sempre haverá aqueles que se cansam de adoptar a postura esperada.
A imposição do comportamento mais parece uma obra fabricada do que propriamente um avanço natural no nosso desenvolvimento.
Não estou a referir-me como utilizamos o garfo e a faca, como fazemos compras, como conduzimos, como pagamos os impostos, enfim, essas coisas todas que na verdade só nos fazem fazer parte de um todo.

Quem dita o nosso papel nas escolhas, nas ideias, nas relações, nas aprendizagens, nos ensinamentos só podemos ser nós mesmos!
O nosso comportamento, a ser autêntico, só pode providenciar harmonia.
A autenticidade viaja directamente desde a nossa essência, e é essa que é importante nutrir.
Além de que, quem está em paz consigo mesmo, é incapaz (genuinamente) de magoar alguém, pois não se sente (genuinamente) magoado.












Ora, o que é afinal o bom comportamento, ou seja, de que se trata o que esperam de nós e para que serve tal cruz.
É-nos muitas vezes difícil dizer e ouvir a verdade. Por isso, ao longo de milénios, temos vindo a construir defesas para proteger os nossos medos e fraquezas e acabámos por construir um sub-plano de existência, que é tudo aquilo que achamos que devemos ser.
E muitas vezes, acaba-se o dia cansado, pois o corpo, a mente e o espírito viveram uma série de contradições.

Faz-me lembrar alguns filmes de ficção – A cidade está rodeada por um dantesco muro; é proibido aos habitantes passarem para o lado de lá; há um receio colectivo, pensamentos e jogos dissimulados, sempre pela existência de algo ali tão perto, e ao mesmo tempo tão intransponível. Sirvo-me das histórias sobre o desafio de procurar novos mundos, para estabelecer a analogia com a desconstrução daquilo que não somos, para exibir o que somos. Neste momento, não só trespassamos o muro, como viajamos até às estrelas.

Diz-se sim quando se pensa não, e diz-se não quando se pensa sim. Oh God!
Dirão com certeza que são as estratégias sociais. Seja o que for, não nos faz bem.
Abraçar o que pensamos que os outros esperam de nós sustenta um amor próprio esquecido.
É tempo de trespassar o muro e começar-se a ser autêntico.
Pois, porque no final da história, percebe-se que afinal o (nosso) mundo é muito maior do que pensávamos.










The minute you choose to do what you really want to do it’s a different kind of life.
(Buckminster Fuller)

It’s time to start the life you have imagined.
(Henry James)

The privilege of a lifetime is being who you are.
(Joseph Campbell)